A nutrição de coelhos é uma área que exige atenção especial, especialmente em relação ao fornecimento de fibra. Diferentemente de outras espécies de produção, os coelhos possuem um trato gastrointestinal altamente especializado, sendo considerados animais pseudo-ruminantes, com um ceco muito desenvolvido e alta atividade fermentativa. Nesse contexto, a fibra alimentar exerce papel essencial para a saúde digestiva, o desempenho zootécnico e o bem-estar geral dos animais.

Entendendo a fisiologia digestiva dos coelhos

O sistema digestivo dos coelhos é adaptado para aproveitar alimentos fibrosos de origem vegetal. Cerca de 40% da digestão e absorção de nutrientes acontece no intestino grosso, especialmente no ceco, onde ocorre a fermentação microbiana da fração fibrosa da dieta. Através da cecotrofia — ingestão de cecos secundários produzidos no ceco — os coelhos reaproveitam nutrientes microbianos essenciais, como vitaminas do complexo B e aminoácidos.

Para que esse processo funcione de forma eficiente, é fundamental a presença de uma quantidade adequada de fibra insolúvel, que estimula a motilidade intestinal, previne distúrbios digestivos e contribui para a seleção correta de partículas no ceco.

Tipos de fibra e suas funções

A fibra alimentar é composta por diferentes frações, principalmente celulose, hemicelulose, lignina e pectinas. Para os coelhos, é essencial distinguir dois tipos principais:

• Fibra insolúvel (FDN – fibra em detergente neutro): estimula a motilidade do trato gastrointestinal, reduz a incidência de estase intestinal, melhora o trânsito digestivo e promove o desgaste dentário natural, evitando problemas odontológicos.
• Fibra solúvel (pectinas e hemiceluloses): altamente fermentável, contribui para a produção de ácidos graxos voláteis no ceco, mas seu excesso pode predispor à diarreia e disbiose intestinal.

O equilíbrio entre essas frações é crucial. Uma dieta com fibra total abaixo de 12% pode resultar em distúrbios digestivos graves, como enterotoxemia, enquanto níveis muito altos podem reduzir a digestibilidade dos demais nutrientes e impactar negativamente no ganho de peso.

Níveis recomendados de fibra na dieta

Diversos estudos recomendam os seguintes teores para dietas completas de coelhos em crescimento e reprodução:

• Fibra bruta (FB): 12 a 16%
• FDN (fibra em detergente neutro): mínimo de 30%
• FDA (fibra em detergente ácido): entre 18 a 21%

Além disso, o conceito de fibra digestível (DF) e fibra não digestível (NDF) vem sendo adotado como padrão moderno na formulação de rações para coelhos, especialmente em sistemas intensivos.

Consequências da deficiência de fibra

A baixa ingestão de fibra pode resultar em:

• Estase gastrointestinal
• Diarreias
• Proliferação de bactérias patogênicas (como Clostridium spp.)
• Redução da ingestão voluntária de alimento
• Problemas dentários (maloclusão)
• Maior mortalidade em fases jovens

Além disso, em matrizes reprodutoras, dietas pobres em fibra tendem a prejudicar a fertilidade e aumentar a incidência de morte embrionária precoce.

Fontes fibrosas utilizadas na alimentação de coelhos

A formulação de dietas balanceadas para coelhos pode contar com diversos ingredientes ricos em fibra, muitos dos quais são ofertados pela Nutritec, como:

• Farelo de trigo: boa fonte de fibra moderadamente fermentável
• Farelo de soja: além de proteína, fornece fibra insolúvel de boa qualidade
• Alfafa peletizada: alta palatabilidade e excelente fonte de fibra estruturante e cálcio
• Polpa cítrica peletizada: rica em fibra solúvel, deve ser utilizada com moderação
• Casca de soja ou casquinha de soja: ingrediente fibroso de alto volume e boa funcionalidade intestinal
• Farelo de girassol: boa alternativa para enriquecer dietas com fibra bruta e proteínas
• Farelo de arroz: com baixa densidade energética, é útil para compor dietas mais fibrosas

Esses ingredientes podem ser ajustados conforme a fase produtiva (crescimento, manutenção, lactação), o nível de produtividade esperado e as condições sanitárias do plantel.