A aquicultura tem crescido de forma significativa no Brasil, impulsionada pela demanda crescente por proteína de alto valor biológico e pela busca por sistemas de produção mais eficientes. Nesse cenário, o uso de subprodutos agroindustriais na alimentação de peixes tem se consolidado como uma estratégia sustentável, econômica e nutricionalmente viável.
A substituição parcial ou total de ingredientes convencionais, como farelo de soja e farinhas, por subprodutos vegetais e animais, pode reduzir custos, agregar valor a resíduos e promover a circularidade na cadeia produtiva. No entanto, para garantir desempenho zootécnico e conversão alimentar satisfatórios, é essencial avaliar a qualidade nutricional, digestibilidade e segurança desses ingredientes alternativos.
Subprodutos vegetais: fontes proteicas e energéticas viáveis
Diversos subprodutos da indústria agrícola têm sido utilizados com sucesso em rações para peixes. Entre eles, destacam-se:
- Farelo de canola: Apresenta bom teor proteico (34–38%), perfil de aminoácidos interessante e níveis moderados de fibra. Quando devidamente tratado (para redução de fatores antinutricionais como glucosinolatos), pode substituir parte do farelo de soja.
- Farelo de arroz integral: Rico em energia, com boa palatabilidade e moderado teor de fibra. Pode ser usado como fonte energética complementar.
- Farelo de trigo e milho: Utilizados como fontes de energia e fibras. Devem ser incluídos com critério para evitar redução da digestibilidade global da dieta.
A inclusão de grãos ou farelos exige balanceamento nutricional cuidadoso, com correção de aminoácidos limitantes, como lisina e metionina, além de atenção à relação energia/proteína ideal para cada espécie, como tilápias, tambaquis e pacus.
Subprodutos de origem animal: alto valor biológico e palatabilidade
Farinhas de origem animal são ingredientes estratégicos na piscicultura por sua alta digestibilidade, excelente perfil de aminoácidos e boa aceitação pelos peixes. Entre os principais subprodutos utilizados, podemos destacar:
- Farinha de carne e ossos: Rica em proteína (40–50%) e cálcio, pode substituir parcialmente a farinha de peixe, reduzindo os custos e mantendo bom desempenho zootécnico.
- Farinha de vísceras de aves: Apresenta elevado teor proteico (60–65%) e alta digestibilidade, sendo uma alternativa viável para tilápias e outras espécies onívoras.
- Farinha de sangue: Altamente proteica (acima de 85%), porém com limitações quanto à palatabilidade. É indicada para inclusão em níveis baixos, com foco em correção de aminoácidos.
Esses subprodutos devem ser utilizados com garantia de qualidade microbiológica, controle de teor de umidade e baixa oxidação lipídica para evitar problemas digestivos e perda de desempenho.
Correção mineral e aditivos: sal, calcário e aditivos estratégicos
Para complementar a dieta de peixes alimentados com subprodutos, é essencial o uso de ingredientes minerais como:
- Sal moído: Fonte de sódio e cloro, importante para a osmorregulação dos peixes em diferentes sistemas de cultivo (água doce ou salobra).
Calcário calcítico ou dolomítico: Utilizado para ajuste da relação cálcio:fósforo, crucial para o desenvolvimento ósseo e desempenho geral.
Além disso, o uso de aditivos como enzimas digestivas (fitase, protease), probióticos e adsorventes de micotoxinas pode potencializar o aproveitamento dos subprodutos, garantindo maior eficiência alimentar.
Cuidados na formulação e inclusão dos subprodutos
Embora promissores, os subprodutos devem ser incluídos de forma criteriosa. É necessário avaliar:
- Digestibilidade aparente para a espécie-alvo;
- Níveis de fibra e cinzas, que podem reduzir o valor energético;
- Presença de fatores antinutricionais, como taninos, gossypol e glucosinolatos;
- Padrões microbiológicos e de armazenamento, para evitar contaminações.
O uso de subprodutos deve sempre considerar a fase produtiva dos peixes. Alevinos e juvenis demandam maior qualidade e digestibilidade da dieta, enquanto adultos em terminação podem receber formulações mais econômicas, com maior teor de ingredientes alternativos.