A silagem é um dos pilares da alimentação de ruminantes em sistemas intensivos e semi-intensivos no Brasil. Sua produção visa garantir oferta de alimento volumoso durante períodos de escassez de pastagens, como o inverno ou épocas de estiagem prolongada. No entanto, o simples fornecimento de silagem não garante bons resultados zootécnicos. A qualidade da silagem é o fator decisivo que separa sistemas produtivos de alto desempenho daqueles que enfrentam perdas e queda na rentabilidade.
Valor nutricional: mais que matéria seca, é desempenho no cocho
A qualidade da silagem está diretamente ligada ao valor nutritivo que ela entrega aos animais. Silagens bem produzidas preservam os nutrientes da planta no momento da ensilagem, oferecendo alto teor energético, adequada proteína bruta, boa digestibilidade da fibra e baixa presença de compostos antinutricionais. Quando esses parâmetros estão equilibrados, há estímulo ao consumo voluntário, melhor conversão alimentar e maior ganho de peso ou produção de leite.
Por exemplo, uma silagem de milho com teor de amido acima de 30% e FDN digestível favorece a fermentação ruminal eficiente, melhora o ambiente ruminal e fornece energia para manutenção, crescimento, produção e reprodução dos animais. Em contrapartida, silagens mal fermentadas têm menor teor energético, excesso de ácidos indesejáveis (como ácido butírico) e menor palatabilidade, afetando diretamente o desempenho dos animais.
Fermentação e estabilidade aeróbia: um processo que começa no campo
A qualidade da silagem depende do sucesso do processo de fermentação anaeróbica. Isso significa ausência de oxigênio, atividade eficiente de bactérias lácticas e rápida redução do pH. Para que isso ocorra, é fundamental colher a planta no ponto ideal de matéria seca (32 a 38% para milho, por exemplo), realizar a compactação correta e vedar hermeticamente o silo.
Quando essas etapas falham, há entrada de oxigênio, aumento da temperatura interna, desenvolvimento de microrganismos indesejáveis e perda de nutrientes por fermentações secundárias. Além disso, a silagem se torna mais instável após a abertura do silo, especialmente em regiões de clima quente. Essa instabilidade aeróbia reduz o tempo útil da silagem no cocho e expõe os animais a alimentos deteriorados, o que impacta diretamente na ingestão e no desempenho produtivo.
Micotoxinas: inimigos invisíveis no desempenho zootécnico
Silagens mal conservadas ou que sofreram aquecimento excessivo são ambiente ideal para o desenvolvimento de fungos toxigênicos, como Fusarium, Penicillium e Aspergillus. Esses fungos produzem micotoxinas que, mesmo em baixas concentrações, afetam o metabolismo animal. As consequências incluem:
- Redução da imunidade e maior incidência de doenças;
- Diminuição da fertilidade e desempenho reprodutivo;
- Queda na produção de leite e ganho de peso;
- Aumento de distúrbios ruminais e problemas digestivos.
Portanto, a segurança alimentar do rebanho começa na qualidade da silagem, e o monitoramento da presença de micotoxinas deve ser uma prática constante.
Impacto direto no desempenho e nos custos de produção
A má qualidade da silagem gera efeitos que vão além do cocho. Animais que ingerem alimento de baixo valor nutritivo precisam de maior quantidade para atender suas exigências, aumentando o custo da dieta. Além disso, o desempenho zootécnico fica comprometido, afetando índices produtivos e reprodutivos. Em sistemas de confinamento, por exemplo, a diferença entre uma silagem de alta qualidade e uma de baixa qualidade pode representar até 15% a mais em custo por arroba produzida.
Já em vacas leiteiras de alta produção, silagens mal fermentadas ou com baixa digestibilidade reduzem a ingestão de matéria seca e a eficiência de conversão, comprometendo a curva de lactação. Isso demonstra que a silagem não é apenas uma fonte de fibra e energia, mas um fator estratégico para a produtividade e rentabilidade do sistema.
Boas práticas para uma silagem de alto desempenho
Para garantir silagem de qualidade, é necessário seguir algumas boas práticas desde o campo até o cocho:
- Escolha de híbridos ou cultivares indicados para silagem (alto teor de grãos, bom perfil de fibra e alta digestibilidade);
- Colheita no ponto ideal de matéria seca;
- Corte e compactação adequada para eliminar oxigênio;
- Vedação rápida e eficiente do silo com lona dupla face ou filmes de alta barreira;
- Uso de inoculantes que favoreçam a fermentação lática e aumentem a estabilidade após a abertura;
- Controle rigoroso da retirada da silagem do silo para evitar reaquecimento e exposição ao ar.
Além disso, a análise laboratorial da silagem deve ser feita regularmente, permitindo ajustes na formulação da dieta e garantindo a performance nutricional do volumoso.