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Nutrição de ovelhas: da gestação ao nascimento

A nutrição durante a gestação é um dos pilares fundamentais para o sucesso na produção ovina, impactando diretamente a saúde da ovelha, a viabilidade do parto e o vigor dos cordeiros. O período gestacional é caracterizado por demandas metabólicas crescentes, especialmente no terço final da gestação, quando ocorre a maior parte do desenvolvimento fetal. Assim, um manejo nutricional eficiente é indispensável para minimizar problemas como partos prematuros, cordeiros com baixo peso e complicações metabólicas, como a toxemia da prenhez, e abandono.

Importância da nutrição na gestação

Durante a gestação, a ovelha enfrenta um aumento progressivo das exigências energéticas, proteicas, vitamínicas e minerais. Um desequilíbrio nesse fornecimento pode comprometer o crescimento fetal e a produção de colostro, além de aumentar o risco de complicações no parto. No terço inicial e médio da gestação, o foco deve estar em manter o escore corporal da ovelha. Já no terço final, a atenção se volta para atender as demandas da placenta e do feto, que podem representar até 70% do peso ao nascimento nesse período.

Dietas bem formuladas devem incluir:

  • Fontes de energia: Grãos de cereais, como milho ou aveia, são essenciais para atender à alta demanda energética. 
  • Proteína de qualidade: A inclusão de farelo de soja ou DDGS (grãos secos por destilação) fornece aminoácidos essenciais para o desenvolvimento fetal.
  • Minerais e vitaminas: Suplementação de cálcio, fósforo e vitaminas A, D e E é indispensável. Produtos minerais específicos para ovinos garantem os níveis adequados desses nutrientes.
  • Fibras de alta qualidade: Ingredientes como casca de soja ou forragens bem manejadas garantem a saúde ruminal.

Foco no manejo pré-parto e pós-parto

O manejo adequado no período pré-parto e durante o parto é fundamental para assegurar a saúde da ovelha e do cordeiro. Seguir boas práticas de manejo reduz complicações e favorece um ambiente propício ao nascimento.

  • No pré-parto, é crucial realizar um “flushing” nutricional (suplementação estratégica) para aumentar a taxa de sobrevivência dos cordeiros e a qualidade do colostro. A introdução gradativa de concentrados na dieta reduz o risco de acidose ruminal, comum quando a mudança alimentar é abrupta.
  • Evitar a subnutrição é tão importante quanto prevenir a superalimentação, pois o excesso de gordura corporal pode causar dificuldades no parto. A monitorização semanal do escore corporal é uma prática recomendada para ajustes na dieta.
  • A tosquia ou a limpeza da lã ao redor da vulva, úbere e flancos das ovelhas (conhecida como crutching) é altamente recomendada. Essa prática reduz a contaminação por fezes e sujidades, facilitando a higienização e a assistência durante o parto. Além disso, melhora o acesso do cordeiro ao úbere nas primeiras mamadas, aumentando as chances de ingestão rápida do colostro.
  • Mantenha o local do parto desinfetado e protegido contra intempéries e predadores. Cama de palha limpa ou outro material absorvente é ideal para proporcionar conforto. Em caso de ovelhas que estejam em lotes maiores, separar as que estão próximas do parto facilita o manejo e reduz o estresse.
  • Após o parto, é essencial oferecer água limpa e fresca à ovelha e um suplemento energético imediato, como soluções eletrolíticas, para auxiliar na recuperação.

A Importância do colostro para cordeiros recém-nascidos

O colostro é o primeiro leite produzido pela ovelha logo após o parto e é essencial para a sobrevivência e o desenvolvimento dos cordeiros. Rico em nutrientes, anticorpos maternos e fatores de crescimento, ele é fundamental para a imunidade, a saúde digestiva e a termorregulação do recém-nascido.

  1. Imunidade passiva: Cordeiros nascem com um sistema imunológico imaturo e dependem totalmente do colostro para obter imunoglobulinas (anticorpos). Essa proteção passiva é crucial para evitar doenças, especialmente em ambientes onde patógenos podem estar presentes.
  2. Nutrientes e energia: O colostro contém níveis elevados de proteínas, gorduras e vitaminas, que fornecem energia imediata para a termorregulação e para os primeiros movimentos do cordeiro, incluindo a busca pelo úbere.
  3. Fatores de crescimento: Elementos bioativos presentes no colostro promovem o desenvolvimento intestinal, melhorando a capacidade do cordeiro de digerir e absorver nutrientes nas fases seguintes.

Momento crítico para a ingestão

O colostro deve ser ingerido pelo cordeiro nas primeiras 6 horas de vida, período em que o intestino do recém-nascido está mais permeável para a absorção de imunoglobulinas. Após 24 horas, a capacidade de absorção desses anticorpos diminui significativamente.

  • Verificação da produção: Após o parto, é importante observar se a ovelha produziu colostro em quantidade e qualidade adequadas. O toque no úbere ajuda a detectar possíveis problemas, como mastite.
  • Assistência ao cordeiro: Em caso de dificuldade para encontrar o úbere ou sugar, o cordeiro deve ser auxiliado manualmente. Se necessário, use uma mamadeira ou sonda esofágica para garantir que o colostro seja ingerido.

A ausência ou insuficiência de colostro pode levar a:

  1. Baixa imunidade e maior suscetibilidade a doenças.
  2. Retardo no crescimento devido à deficiência de nutrientes.
  3. Taxas mais altas de mortalidade neonatal.